Eu desci do trólebus no ponto de sempre, atrasada como
sempre, desligada como sempre, te vi e perguntei se queria ajuda com a bicicleta, mas no fundo eu só queria
falar meia dúzia de palavras que sempre ficam na minha cabeça no pequeno trecho
que faço entre o ponto de trólebus e a sala de aula. Ultimamente essa é a única
hora do dia que me sinto livre, é a hora que eu ouço "pequena" desvio
com ritmo dos galhos das árvores e das poças na calçada, o chão molhado faz eu
me sentir viva.
Eu sorrio olho pro céu e respiro bem fundo, na maioria das
vezes sinto uma baita vontade de chorar, penso que na única hora do dia que
vivo, quero chorar, mas vejo no fim do sol que não sei quais são os motivos das
lágrimas que travam a minha garganta.
E ai eu canto baixinho:
"Uma tarde cinza de chuva pra
pensar
E achar bonito depois que o sol sair..."
E achar bonito depois que o sol sair..."
Depois disso respiro mais fundo ainda, tão fundo que ao menos uma lágrima cai, fico um pouco tonta mas ai esqueço esse negócio de vida e vou fazer oque tenho que fazer...
Eu perguntei se você queria ajuda com a bicicleta, mas você
só disse "Não, valeu" .
E foi assim que engoli as raras frases que queria
compartilhar.